#16 ninguém aguenta mais ficar online
tentando ser deixar de ser cronicamente online com uma cybershot, um relógio de pulso e um sonho
já faz algum tempo que eu tenho pensado sobre o motivo de eu gostar tanto da minha câmera digital. obviamente, eu sou influenciável (assim como todas nós) e gosto que é uma coisa da minha infância que voltou a ser cool. eu também gosto da estética das fotos, claro. mas tinha mais alguma coisa que eu não estava conseguindo colocar em palavras: eu acho que… gosto de não depender do meu celular para tirar fotos.
não acho que o celular seja o inimigo, veja bem: eu só acho que a gente se acostumou a depender dele para coisas demais e agora tem dificuldade de se separar dele. e, ao não conseguir largar o celular, a gente acaba estando sempre online, sempre disponível, sempre consumindo conteúdo, sempre recebendo notícias, sempre sabendo da opinião de muita gente ao mesmo tempo. eu poderia tentar fazer um panorama histórico inteiro de como a gente veio parar aqui, mas eu não sou qualificada para isso. o que eu posso fazer é dizer: puta merda, como que a gente sai daqui?

ninguém aguenta mais estar online o tempo todo — pelo menos, é a impressão que eu tenho vendo os posts, vídeos e textos sobre querer sair dessa vida cronicamente online e não conseguir. para mim, esse é um problema muito complicado de colocar em palavras: ao mesmo tempo que sei que as redes sociais são estruturadas para roubar sua atenção, te fazer consumir desenfreadamente e desperdiçar tempo precioso, ainda assim acho que dá para ter uma relação mais saudável com elas. sim, justo eu que escrevi um texto inteiro sobre ter desinstalado o tiktok por não conseguir ter uma relação saudável com um aplicativo, um negócio que nem existe, acho que dá ainda dá para salvar nossas preciosas cabecinhas.
esses tempos eu ouvi um episódio do podcast da lela brandão sobre como ter passado vinte e um dias sem redes sociais mudou os hábitos dela e aquilo ficou martelando na minha cabeça por dias. a lela trabalha com redes sociais, então ela não tem a opção de sumir da internet para sempre; no meu caso, eu acho que simplesmente não quero. eu ainda acredito nas redes sociais como ferramentas de conexão, ainda gosto de usar elas (apesar que depende do dia) e acho, honestamente, pouco realista querer sumir da internet por completo nesse momento hiperconectado em que vivemos — mas vale lembrar que eu estou falando como alguém que não vê necessidade de sumir, e só quer repensar a relação com tecnologia.

o que me leva ao primeiro problema: todo mundo quer diminuir seu tempo de tela, mas ninguém sabe bem como. acredito que o primeiro passo é repensar, sim, sua relação com as redes sociais; ao mesmo tempo, acho que dá para começar por outras coisas. no episódio, a lela falou sobre algumas coisas que ela percebeu naquele tempo sem redes sociais, e uma das que mais me deixou de cara foi ela falar sobre como usar relógio de pulso ajudou ela a evitar pegar o celular para ver a hora e se distrair a ponto de nem lembrar o que ela estava fazendo antes. cara. que coisa simples. que coisa eficaz. e aí, minha cabeça saiu voando com mais ideias de como ativamente evitar usar o celular, tornando ele um pouquinho mais obsoleto.
eu posso ter sempre uma câmera comigo para tirar fotos. não ocupa muito espaço na bolsa, afinal de contas. eu posso começar a usar relógio de pulso para ver as horas sem ter que pegar no celular. eu posso sempre levar um livro comigo, um caderninho de sudoku ou palavras cruzadas para fazer enquanto espero. se eu realmente quiser, eu posso usar uma calculadora de verdade, e não a do meu celular. eu poderia até comprar um mp3 player e parar de assinar o spotify premium. mas, no fim, a verdade é que não precisa ser oito ou oitenta.

a grande questão para mim é a seguinte: vivemos em um mundo hiperconectado, que exige que eu tenha um celular e que me incentiva a gastar o máximo de tempo possível online, e é irrealista achar que algo vai mudar no futuro próximo, sendo que a tendência é só estarmos cada vez mais conectados. se eu sou apenas uma pessoa no mundo, quais são as atitudes individuais que eu posso adotar para diminuir meu tempo de tela e melhorar minha relação com o celular? a vontade é abraçar o mundo e gritar para todo mundo comecem a usar câmeras digitais novamente! saiam do celular e conversem com uma pessoa de verdade! não vendam suas almas para influencers! mas, no fim das contas, eu sou apenas mais uma na multidão, enfrentando os mesmos problemas que todo mundo enfrenta.
por isso, volto a dizer: não acho que precisa ser oito ou oitenta. eu sinto que cada coisinha que eu consigo mudar no dia a dia para diminuir meu tempo de tela já é muito bom. a minha conclusão em muitos desses textos mais reflexivos (como nesse e nesse outro aqui) costuma ser a mesma; às vezes não é sobre mudar o mundo, é sobre pensar mais sobre o que você consome. ou, nesse caso, sobre como você está usando seu tempo. mudar um pouquinho não o mundo inteiro, mas o seu mundo.

três sete coisinhas dessa semana:
eu gosto muito de deixar recomendações de textos que eu li, para pensar mais sobre, quando é um assunto mais denso como esse. todos os textos dessa semana são daqui do substack!
⟶ a lita, do era uma vez um pato, escreveu sobre não poder ser descronicamente online, para quem trabalha com redes sociais e não sabe bem como lidar com isso sem trocar de emprego
⟶ a maju, do isso não sou eu, escreveu sobre todo mundo tirar foto das mesmas coisas, sobre a uniformização do olhar que a internet causa (do ponto de vista de quem já publicou artigos sobre o tema!!!)
⟶ a mariana, do relicários, escreveu sobre quatro escolhas que ajudaram ela a ter uma relação mais saudável com a internet, e é um bom ponto de partida para pensar de forma realista como se desvencilhar da internet
⟶ o davi, do dia sim, dia não, escreveu sobre 25 boas ideias para largar o vício em celular (e 25 boas ideias para aumentar seu tempo de tela, caso você tenha interesse)
⟶ a marloes, do making it, escreveu sobre o fim das redes sociais (talvez) estar próximo (em inglês), fazendo uma análise sobre os dias de glória do instagram estarem acabando
⟶ a freya, do girls, escreveu sobre não precisar documentar absolutamente tudo (em inglês) e viver sua vida sem postar tudo
⟶ por fim, gostei muito dessa nota da yaci, do na telha, sobre o equilíbrio dela entre analógico e digital!
Estava a diiiiias querendo ler essa!! Nada como uma entre lugares num domingo de manhã :')
Eu amo como a gente tem o mesmo pensamento sobre o digital: de gostar disso tudo, apesar dos apesares. Eu sou 100% uma garota digital, eu prefiro o digital, mas eu não sou obcecada com isso aqui. E acabei pensando absurdos sobre isso nos últimos meses, e pesquisei bastante sobre também. Admito que estava um pouco desesperada sem conseguir entender o "porquê das coisas", como a internet funciona e tudo mais.
Eu acho (acho!) que entendi o que verdadeiramente deixa todo mundo tão louco com isso aqui, pensando um pouco além do óbvio (que é que os caras obviamente criaram uma experiência online cujo foco é lucrar com você). Esse rolê da padronização, e literal enquadramento, que acontece com as pessoas no digital é real. É que nem a maju fala no texto dela sobre a padronização das imagens, mas indo ainda além, porque cara: a gente se sente na obrigação de criar coisas que se enquadram no 9:16 do TikTok e reels, sabe? E acho que isso meio que está sugando toda a criatividade, autenticidade e poder de inovação humana de nós.
Eu de verdade parei para pensar nisso, na padronização dos próprios meios midiáticos, da Web no geral, e ando me questionando seriamente se isso tudo *precisa* ser assim. Eu quero entender qual a lógica de ter formatos específicos para as coisas. Eu sei que do ponto de vista do design e UX, você tem que pensar em como vai ser para as pessoas usarem aquele programa, que existe uma lógica para o olhar humano (?). Mas o quanto disso é pensado em nós e o quanto disso é pensado na facilitação da atuação dos algoritmos? Me parece que enquadrar tudo em 2 formatos em um feed beneficia mais as maquinas do que a criação humana. Por exemplo o Lightroom, um programa pensado para edição de fotos e vídeos, e portanto voltado para a criação, exibe todos os seus trabalhos em uma galeria que simplesmente adequa ao tamanho de cada projeto individual, formando um "feed" em mosaico. Qual a lógica do instagram, então?
De qualquer forma, ando pensando muito nisso tudo. Quero tentar encontrar formas mais criativas de usar isso aqui. Tô escrevendo sobre isso, mas não sei se estou conseguindo achar as palavras que eu queria ainda. Provavelmente vou escrever várias vezes kkkkkk
P.s.: Amei que você citou minha nota :'))))) que fofa!!! Não tinha visto
As vezes me sinto uma dependente química tentando largar a droga. Será que não sou realmente isso? TODOS os dias eu tento incessantemente passar o tempo sem celular mas parece que eu estou sempre procurando por ele. Talvez o meu problema sempre ser 80, eu apago tudo e parece que vai durar muito mas o final nós todas sabemos. Eu devia ser um 8, vou tentar ser uma 8.