#18 escrever sobre não conseguir escrever
e outros jeitos bobos de curar um bloqueio criativo
me parece errado escrever sobre não conseguir escrever.
na minha cabeça, se você não consegue escrever, você tem que fazer outras coisas — tipo ficar em meio à natureza, ver um pôr do sol, fazer um bolo, sei lá. mas eu já fiz tudo isso (mentira, não fiz nenhum bolo recentemente) e ainda estou bloqueada; então acho que o que me resta é escrever.
eu já lidei com inúmeros tipos de bloqueios criativos — afinal de contas, eu me considero uma pessoa criativa e literalmente estudo artes enquanto trabalho com design — mas eu nunca tinha enfrentado um bloqueio de escrita porque eu nunca escrevi consistentemente o suficiente para isso acontecer. é uma experiência nova! meio que estou odiando. o problema é que eu sinto que não tenho as ferramentas necessárias para me livrar desse bloqueio. ou de nenhum bloqueio criativo, na verdade. quando eu não consigo desenhar, eventualmente sai alguma coisa porque o prazo de alguma disciplina chega e eu tenho que entregar um projeto finalizado. quando eu não consigo inventar um conceito legal para uma arte gráfica, eu não tenho a opção de não entregar nada; é meu trabalho, e eu gostaria de evitar ser demitida.
no fim das contas, a minha estratégia até agora tem sido dar um tempo até os prazos e cobranças baterem na porta e depois simplesmente fazer ALGO. nesses casos, eu sei que não precisa ser nada mirabolante — apenas um ponto de partida para soltar os músculos criativos e passar pelo bloqueio. então porque eu não consigo fazer o mesmo com a escrita? em uma palavra: falta de prazos. ok, foram três. melhor, em uma frase: falta de cobrança externa. realmente, o bloqueio criativo tá me pegando de jeito. enfim, eu preciso aprender a fazer as coisas por mim, e não por causa de alguma pressão externa na forma de chefes, professores ou prazos. essa é a primeira parte do problema.

a segunda parte é mais difícil de resolver (como se a primeira fosse fácil), já que envolve o grande problema da minha vida nos últimos tempos: por causa da minha vida entre lugares, eu não consigo ter uma rotina. e eu sou uma pessoa que ama rotinas: eu amo fazer a mesma coisa todo dia e não ter que pensar no que comer de café da manhã, por exemplo. eu preciso de um mínimo de rotina simplesmente para existir diariamente. só que vivendo entre três cidades fica meio difícil ter qualquer tipo de rotina — inclusive, se você não tá entendendo nada, eu explico melhor a minha vida nômade nesse texto aqui.
baseado nas vozes da minha cabeça (e na minha relação com criatividade) eu sei que a rotina tem uma relação direta com o quão criativa eu me sinto e consigo ser. baseado nesse estudo coreano (que eu li só metade), eu sei que existe de fato uma relação direta entre os dois. baseado na quantidade de vezes que já vi gente falando sobre escrever páginas matinais por causa do livro o caminho do artista (que eu nunca li e não pretendo ler), imagino que exista uma relação com a rotina aí também. isso tudo para dizer que: partindo de várias referências pela metade, eu consigo concluir que a rotina é importante para a criatividade; eu só não consigo saber como ter uma rotina nesse momento que estou vivendo. e também não consigo fazer uma pesquisa direito, aparentemente.
então, lá fui eu pensar em outros jeitos de lidar com rotina. acredito que a lista de inegociáveis da lela brandão (que veio de um podcast dela de outubro do ano passado e aluga um triplex na minha cabeça desde então) seja um bom lugar para começar. no episódio, ela faz uma lista de coisas que são essenciais para ela viver bem, e vão desde coisas sérias e importantes para a saúde (tipo exercício físico) e até coisas importantes para as vibes (tipo cafezinhos superfaturados). na época eu já tinha feito a minha lista, que inclui acordar com um tempinho pra moscar na cama e tomar café da manhã com calma (porque eu odeio acordar correndo) e ler antes de dormir (para evitar ficar tempo demais no celular e dormir melhor). são coisas simples, mas que fazem total diferença no dia a dia — e eu admito que tenho sido omissa e esquecido de tornar elas prioridades no meu dia a dia. admito, vacilo meu.
outra coisa que me inspirou demais a pensar em rotina de outro jeito foi o texto da bibs, do sempre 7 coisas, das 7 coisas que ela aprendeu (a duras penas penas) sobre rotina. as duas coisas que mais me tocaram foi a ideia de fazer uma vida que caiba nos dias e não cair nos mesmos ciclos viciosos de só existir para trabalhar e de simplesmente fazer o que dá na telha às vezes. no fim, o que eu tirei do texto foi a ideia que de nada adianta eu me sentir super mal de não ter tido uma rotina perfeita nos últimos tempos e não conseguir sair do ciclo que eu tô presa. eu tenho que abandonar o perfeccionismo (ai) e simplesmente começar. o que é muito parecido com o jeito que eu decidi lidar com o meu bloqueio de escrita… que coincidência… parece até que as duas coisas tem uma relação direta…
enfim, apesar de ter demorado DUAS SEMANAS para escrever esse texto, escrever sobre não conseguir escrever surtiu exatamente o efeito que eu esperava e tirou um pouco da pressão da coisa. sempre dizem que a criatividade é um músculo, e eu sinto que fui na academia pela primeira vez no ano e voltei toda dolorida para casa. mas eu fui! no caso, escrevi! e, aos poucos, vou aprendendo a lidar com outros tipos de bloqueios criativos (inclusive, se você tiver alguma dica para mim estou aceitando) e com a falta de rotina da vida nômade. obrigada por ter lido até aqui!
três coisinhas dessa semana:
⟶ sigo ouvindo o álbum alligator bites never heal da doechii (minhas favoritas são nissan altima, beverly hills e wait)
⟶ estou amando ter uma newsletter do vitor martins para ler de novo, já que eu assinava a antiga dele e foi o que fez eu me apaixonar por esse formato
⟶ aconteceu. estou jogando the sims 4 novamente. se você não entende que isso é um problema seríssimo eu te ofereço essa informação: entre eu e minha grande amiga bruna (que divide uma conta da ea comigo) existem quase QUATRO MIL E SETECENTAS HORAS jogadas desde que o jogo foi lançado em 2014. eu NÃO POSSO DEIXAR esse jogo me CONSUMIR NOVAMENTE agora eu sou ADULTA e tenho um EMPREGO!!!!!!!!!!!!!!
como comentou da vida nômade e falta de rotina, não sei se minha dica vai ser tão útil pra ti, mas tem duas coisas que me ajudam com bloqueios criativos na escrita: buscar por repertório e escrever sem pretensão. então, ler bastante, assistir mtas entrevistas, filmes, séries, etc e também manter o hábito de escrever por escrever. dessas duas coisas sempre saem algumas ideias compartilháveis. se nenhuma dessas coisas funcionar, sei que tô precisando dar um tempo de todas as coisas criativas e apenas existir!! e adorei o texto, ele me inspirou (ironicamente, já que é sobre bloqueios!!!)
Má, eu super me identifiquei com as dificuldades da falta de rotina. Só quem viveu sabe... Uma coisa que me ajudava muito quando eu tinha minha vida nômade era pelo menos começar e terminar o dia da mesma forma - seja lá aonde eu esteja. Acho que a coisa mais interessante da vida nômade é ser forçada a encontrar coisas que ancoram a gente na gente mesmo sabe?